sábado, 30 de junho de 2012

Adoniran e a Especulação Imobiliária


"Cada táubua que caía doía no coração", compôs Adoniran em 1951, e ainda hoje, mais de 60 anos depois, as "táubuas" das humildes casas de São Paulo continuam caindo e fazendo chorar milhares de famílias trabalhadoras do mais populoso estado do Brasil.

Filho dos imigrantes italianos de Veneza Emma e Fernando Rubinato, João Rubinato, mais conhecido como Adoniran Barbosa, nasceu em Valinhos, São Paulo e desde a infância teve que trabalhar para se sustentar e ajudar a família com as despesas de casa. Teve a sua data de nascimento alterada para que pudesse começar a trabalhar mais cedo. Por problemas financeiros a família de Adoniran teve que se mudar diversas vezes. Depois de deixar Valinhos, a família Rubinato viveu em Jundiaí, Santo André e por fim se instalou na capital paulista em 1933, onde o jovem Adoniran começou a compor os seus primeiros sambas.



Antes de se consagrar como o maior sambista de São Paulo, Adoniran fez sucesso no cinema em filmes como "O Cangaceiro", na tevê com as primeiras telenovelas da TV Tupi e no rádio, onde representava o personagem Charutinho no programa Histórias das Malocas de Oswaldo Molles. Foi no cenário caótico do crescimento desenfreado e desordenado da Terra da Garoa que Adoniran se tornou o cantor dos sem voz, e pouco a pouco foi sendo amado e respeitado pelo povo paulista e brasileiro que se identificava com o seu samba cheio de sentimento e humanidade. Em 1951 lançou o seu primeiro sucesso, Trem das Onze. Ainda que tenha sido um sucesso instantâneo no Rio de Janeiro e em São Paulo, a composição apenas rendeu a Adoniran uns trocados pelos direitos autorais.

Elis Regina e Adoniran em 1978




Em 1973 grava o seu primeiro disco que começa a dar frutos. Embora não se importasse com dinheiro, Adoniran gostava muito de ajudar os amigos, e foi com eles e com as inúmeras rodas de samba que gastou todo o seu dinheiro, vivendo assim apenas com o necessário para a sobrevivência. O nosso amado Ney Matogrosso disse ter passado os melhores dias da sua vida quando vivia na simplicidade, apenas como essencial, então isso nos leva a crer que Adoniran foi feliz por toda a vida.



O maior registro audiovisual que nos foi deixado sobre o cantor é a gravação do programa Ensaio, da TV Cultura de 1972. Nele Adoniran canta os seus maiores êxitos, assim como os menos conhecidos, e nos enche de saudades e de tristezas pelas injustiças sociais que se repetem década após década, ano após ano e dia após dia na cidade de São Paulo. Enquanto existirem os despejos, as demolições arbitrárias, o autoritarismo e a política elitista nas nossas cidades do Brasil e da América Latina, Adoniran permanecerá um atemporal combatente da especulação imobiliária. E quando enfim as famílias latinoamericanas tiverem direito à moradia, Adoniran se firmará como um de seus eternizados defensores.


Encontro de Elis e Adoniran no Bairro do Bixiga,
São Paulo, em 1978

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