quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Invasão do Mangue

Os caranguejos com cérebro, como eram chamados os precursores do Movimento Manguebeat, chegaram em uma hora onde não havia mais esperança para a população nordestina. Crianças e adolescentes morriam aos montes nas favelas de Pernambuco, a desigualdade social crescia assustadoramente e as autoridades pareciam não se importar. Tudo era muito bem maquilado pelo eixo propagandístico Rio-São Paulo. Rio representava o paraíso, onde o Brasil abria suas portas para o mundo, e São Paulo, como a grande metrópole, apresentava o crescimento econômico do país. O nordeste e as outras regiões do Brasil, por sua vez, eram esquecidas e jogadas para escanteio. Alguém precisava falar. Alguém precisava contestar. E foram os caranguejos, saindo da lama, que se jogaram no mundo para enfrentar os urubus.





Fred Zero Quatro
Embora a obra de Robertinho do Recife, como o álbum Jardim da Infância de 1977 já possua elementos do manguebeat, foi só em 1992 que Fred Zero Quatro, jornalista e músico fundador da banda Mundo Livre S/A, lança o primeiro manifesto do movimento, que mostrava que os mangueboys, compostos em sua maioria de meninos saídos das periferias de Pernambuco, tinham mais do que força de vontade, tinham cérebro e consciência de suas realidades sociais, e com suas críticas e fusões musicais pretendiam mudar a realidade das cidades de Recife e Olinda, para então mudar todo o Brasil.

Leia Aqui o Manifesto Caranguejos Com Cérebro

Chico Science
Se foi Zero Quatro quem deu o ponta pé inicial para o movimento, foi dois anos mais tarde, em 1994 com o disco Da Lama Ao Caos, que Chico Science e a sua Nação Zumbi colocaram o Manguebeat no centro das atenções nacionais. Misturando ritmos nordestinos com música eletrônica, rock e pop, e botando pra tocar o inconfundível maracatu, o grupo conseguiu invadir as paradas de sucesso e inundar as rádios com suas ideias e protestos. Surgia uma legião de caranguejos com cérebro.

A partir desse momento o manguebeat passou a ter uma atenção especial da mídia, nacional e internacionalmente. Suas batidas envolventes e eletrizantes levavam ao êxtase não só os fãs, mas qualquer pessoa que ouvisse pela primeira vez o som do maracatu que, como dizia Chico Science pesa uma tonelada. Além do ritmo pesado, as letras eram recheadas de política e contestações. Os caranguejos tinham fome, e queriam que todos tivessem direito a um pedaço do bolo.

O êxito do movimento, que perdeu um pouco da sua força - mas não a sua genialidade - com a morte de Chico Science em 1997, foi consolidar o estado de Pernambuco como o centro inovador artístico-cultural do Brasil, retirar as bandas e artistas de periferia da exclusão social e desmembrar - mesmo que um pouco - o eixo Rio-SP.
Jorge Dü Peixe, atual vocalista da
Nação Zumbi
Artistas como Karina Buhr, Cordel do Fogo Encantado, Mombojó e a Nação Zumbi pós-Chico, que ainda utilizam referências do manguebeat, estão inseridos na vanguarda da nova música Popular (com P maiúsculo) brasileira.






Documentário Completo da TV Cultura 
sobre o movimento Manguebeat



RECOMENDAÇÕES DE DISCOS

Da Lama Ao Caos - Chico Science & Nação Zumbi (1994)



Samba Esquema Noise - Mundo Livre S/A (1994)



Jardim da Infância - Robertinho do Recife (1977)



Eu Menti Pra Você - Karina Buhr (2010)



Cordel do Fogo Encantado - Cordel do Fogo Encantado (2001)



Fome de Tudo - Nação Zumbi (2007)

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